Monday, June 13, 2005


Morreu hoje um corajoso anti-fascista, um politico coerente, um homem digno.Saibamos merecer o seu o seu exemplo. Ate amanha camarada. O blog curva-se ante a sua memoria.

38 comments:

zeu s said...

Seremos capazes de, na agitada vida que levamos, parar por cinco minutos e ler:
Era uma bela e incalendarizável manhã. Ninguém deteria o olhar na cena familiar que se desenrolava lá em baixo, na praia do Portinho da Arrábida. Três mulheres e três homens. Elas, sentadas na areia, em torno de um recipiente, cortavam feijão-verde para o piquenique que se adivinhava. Eles, mais adiante, conversavam tranquilamente. Nada a registar, nenhum acontecimento a declarar. Uma imagem condenada a figurar naquela galeria de recordações que se classificam de vagas e nos aparecem de contornos esbatidos pela miopia da distância. E, no entanto, Stella Piteira Santos, 84 anos, resgata-a da memória. Apenas se lembra que era uma bela manhã. E também que se fartou de cortar feijão. E aqui a torneira das lembranças começa, enfim, a gotejar, porque, pensando bem, aquele não era um piquenique normal, presumia-se alguma tensão, para além da aparente casualidade do momento... Algures, nos princípios dos anos 40, o propósito do passeio era o reencontro familiar com um filho extraviado pelas andanças da política. Sob a cobertura insuspeita de uma família que veraneia, ao abrigo de olhares indiscretos e da vigilância da PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, que antecedeu a PIDE), foi Stella e o então marido, Inácio Fiadeiro, o casal amigo que promoveu o encontro. Com a mãe, D. Mercedes, o pai, o advogado, escritor e pintor Avelino Cunhal e a irmã Geni (Maria Eugénia). O filho, acabado de regressar de uma das suas misteriosas viagens ao exterior, era Álvaro Cunhal.

Na História Avesso a biografias, ainda mais a autobiografias, Cunhal, à beira de completar 88 anos (nasceu a 10 de Novembro de 1913), manteve o livro da sua vida escrupulosamente fechado. Deu-se a ler nos capítulos públicos, nos politicamente convenientes, numas quantas erratas com que pretendeu restaurar alguns passados menos oportunos... Resta-nos a leitura cifrada das entrelinhas, as pistas (às vezes falsas), os enigmas e os fragmentos de vida pessoal com que salpicou as milhares de entrevistas à comunicação social. E os seus ensaios, desenhos, pinturas e a ficção por onde o «eu» se escapa e mais fielmente se revela. As restantes páginas permanecem de acesso restrito. À família, aos amigos, a alguns camaradas de partido e àqueles que, por razões várias, o acompanharam de perto, por detrás dos biombos que sempre salvaguardaram a sua privacidade. Porque «um verdadeiro comunista não fala da sua vida privada». E Álvaro Cunhal, nas palavras de um ex-compagnon de route , «é um comunista em estado puro». Diabolizado pela direita, reverenciado por alguma esquerda, o mistério biográfico atiçou curiosidades e fomentou a tentação de descobrir a árvore dentro da floresta, de lhe seguir os labirintos – e de o transformar numa personagem quase borgeana, cheia de máscaras e segredos. De tanto correr cortinas de silêncio, de tanto enebular os acontecimentos mais prosaicos e triviais, de tanto se refugiar estética e literariamente na heteronímia, de tanto se resguardar do mais leve indício do estalinista conceito de culto da personalidade, Cunhal foi compondo – mesmo sem querer – o seu próprio mito, retocando o seu perfil histórico e a sua própria posteridade. Um homem coerentemente convicto, indiscutivelmente culto e intelectualmente brilhante. Cauteloso nos gestos, austero na imagem, sagaz nas palavras e nos raciocínios, quase espartano nos quotidianos, imbatível nas entrevistas, inclemente para os que «traíram» – a si ou ao seu sentido de História e de verdade –, imprevisível na transição que faz da dureza para um registo desconcertantemente dócil. Este é o retrato de uma das figuras mais fascinantes e ao mesmo tempo mais opacas do século passado. E o resto... o resto é como a resposta que uma rainha da Espanha seiscentista mandou dar a quem lhe ofereceu umas meias, devolvendo a prenda à procedência: «As rainhas não têm pernas.»Reconstruir o homem de corpo inteiro é entrar no terreno minado das bocas silenciadas, das memórias obliteradas pelo tempo ou pelas conveniências, das sombras e dúvidas retrospectivas que cobrem os acontecimentos, as datas, os percursos. E é chegar à frustrante conclusão de que existe um Cunhal que permanecerá para sempre um desconhecido. Cunhal tem 88 anos. Os mitos não têm idade.

Na família Durante muitos anos, Stella Piteira Santos foi visita quase diária da casa da família Cunhal. Eram sempre boas casas (a família mudava-se com frequência), típicas da classe alta da época, situadas nas Avenidas Novas. A mãe, D. Mercedes Cunhal, e a irmã, Eugénia, apresentavam-se impecavelmente vestidas, as empregadas serviam à mesa, respirava-se um ambiente sereno, não se falava nem de política nem de prisões e comia-se sempre muito bem. Uma atmosfera de alta burguesia que contrastava com o fato-macaco com que o filho Álvaro fazia questão de se passear pela casa. «O Álvaro fazia coisas só para maçar a mãe. Uma vez lembrou-se de comprar o fato-macaco e vestia-se assim, logo pela manhã, para mostrar à mãe que pertencia a outra classe. [Em 1950, no seu julgamento perante o tribunal plenário há-de afirmar-se filho adoptivo da classe operária].» O médico Ludgero Pinto Basto, 93 anos, um outro amigo de juventude, lembra a dureza da mãe de Cunhal. Um dia, ela acusou-o de ter sido ele, Ludgero, que lhe «estragara» o filho. O então estudante de Medicina respondeu-lhe: «Minha senhora, infelizmente não fui eu. Quando o conheci já ele estava estragado há muito tempo.» Cunhal não se melindrava com estas adversidades maternas, «levava isto pela rama», encolhia os ombros e respondia-lhe: «Qualquer dia, estás como eu…» Nunca esteve. O pai, Avelino Cunhal, sim, «concordava plenamente com o ideário do filho». A mãe «estava demasiado orientada pelas convicções católicas e conservadoras». Foi à frente de Stella que D. Mercedes avisou Álvaro, na altura já com duas prisões (uma em 1937, outra em 1940) a manchar-lhe o currículo de filho exemplar e a marcar-lhe o destino de comunista obstinado: «Álvaro, tu agora vê a vida que fazes, porque se tornas a ser preso, eu nunca mais te vou ver à cadeia.» Cunhal voltou, de facto, a ser preso, em 1949, desta vez por mais de 11 anos (a que se seguiram 14 de exílio). A mãe manteve a promessa. «No fundo, creio que ela deve ter sentido um certo orgulho, ao ver o êxito que o filho alcançou», comenta Ludgero. Stella sentia-se particularmente próxima de D. Mercedes, «era um pouco ríspida, mas entendíamo-nos muito bem». Aliás, Stella guarda ainda uma grande estima pela família toda. Mesmo que, a certa altura, os seus caminhos políticos se tenham desavindo. Mesmo que ainda lhe trema a voz quando relê as palavras implacáveis e amesquinhantes que lhe dirigiram na imprensa partidária, aquando da expulsão do PCP, em 1952, do seu segundo marido, Fernando Piteira Santos. Disto não fala (mas também não esquece). Chama-lhe compartimentos estanques, nunca comunicantes, a esta capacidade interior de se desdobrar: de um lado, a política; do outro, a amizade. E a amizade é, acredita ela, incontaminável. Não sabe ao certo a primeira vez que avistou Álvaro, que as memórias também não são como soldados na parada, prontas a dar um passo em frente assim que convocadas. Pensa que terá sido pouco antes do seu primeiro casamento, em 1934, com Inácio Fiadeiro. Tinha então 17 anos. Álvaro mais quatro. Lembra--se de ele lhes ter dado uma prenda inusual (ou intelectual) de casamento, para grande gáudio das empregadas. Lembra-se também das idas à praia, dos passeios no Tejo, das tertúlias depois do jantar, das recomendações literárias de Álvaro, quase sempre autores soviéticos. «Eu não tenho a ideia de um Álvaro Cunhal muito duro que toda a gente tem. Ele levou toda a sua vida a mostrar-se muito mais austero do que penso que seja na realidade.» O Álvaro que conheceu na juventude era muito humano, muito mais liberto, fazia comentários jocosos, e nem sempre era racional nas suas coisas. Além do mais, era um homem muito bonito, «e ele tinha consciência disso». Tudo lhe ficava bem – até o fato-macaco.

No partido 1931. Portugal, país anacrónico e analfabeto, vê insinuar-se ao poder um obscuro ministro nas Finanças. Enquanto isso, Álvaro Cunhal entra para a Faculdade de Direito e para o PCP. Tem 17 anos. O jovem de porte atlético e olhar agudo impressiona. Ludgero Pinto Basto, que também adere ao PCP nessa data, conta como ele «se impôs logo à primeira vista»: «Revelou, desde logo, qualidades invulgares, uma inteligência notável e um comportamento pessoal exemplar. Desde a juventude, sempre foi excepcional. Era um indivíduo de convívio agradável, fácil, mas não despreocupado. Tinha muitas preocupações com o seu comportamento e em lidar com as pessoas, do ponto de vista moral.» Envolve-se publicamente em polémicas estéticas e literárias, em 1934 é representante dos estudantes no Senado Universitário, tem uma ascensão meteórica como dirigente máximo da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas, anda por Moscovo em 1935 e por Espanha, em plena guerra civil. Em 1939, é eleito, pela primeira vez, para o Secretariado do PCP, com Ludgero Pinto Basto e Francisco Miguel. Surpreende pela enorme capacidade de trabalho, enquanto os outros caem de sono, Cunhal continua a escrever, pela noite fora. Continua Ludgero: «Percebi logo que era um indivíduo com raras qualidades para ser dirigente e que iria desempenhar um papel importante na política portuguesa, mas o seu trajecto ninguém o podia prever.» Nem a PVDE. Numa fase incipiente e ainda muito pouco sofisticada, a polícia não valoriza este jovem estudante, filho de boas famílias. A mãe gere as suas influências e intercede para que ele seja libertado em pouco tempo. «Álvaro Cunhal não foi tomado muito a sério pela PIDE. Nunca lhes passou pela cabeça que aquele rapaz viria a ser um dos dirigentes políticos dos mais notáveis do mundo.»Em 1940, Cunhal realiza, sob escolta policial, o seu exame oral de licenciatura, com 16 valores. Entre a audiência, os agentes assistem, pasmados, à defesa de uma tese de cem páginas sobre o aborto. Tem como arguentes aqueles que seriam alguns dos homens mais influentes do regime de Salazar: Marcello Caetano, Paulo Cunha e Cavaleiro de Ferreira, o «inventor» das terríveis medidas de segurança que perpetuavam as penas dos presos políticos. Naquela época, a licenciatura era, explica Ludgero, «uma arma de resistência à polícia». Ele próprio se apresentou a exame na clandestinidade, mesmo correndo o risco de ter um agente à espera no final da prova. Chegou a exercer Medicina, num consultório meio escondido na Penha de França, com uma tabuleta com nome falso à porta. Será o título de doutor que livra Ludgero, preso em 1939, dos espancamentos, durante o interrogatório, e do Tarrafal. Mas não da prisão de Angra, «onde éramos tratados como cães». Quando, ao fim de quatro anos, é libertado, já não regressa ao Secretariado do PCP e mantém-se na legalidade. Torna-se numa espécie de seguro de vida e de saúde para muitos clandestinos, que com o médico tratam furtivamente as suas mazelas. Àlvaro Cunhal também esteve sob o seu olhar clínico ao longo dos anos quarenta. «Mas sempre por coisas insignificantes. Era um homem bem constituído, rijo e saudável.»

Na clandestinidade Corria o ano de 1938, Stella cancela uma matinée de cinema com Eugénia Cunhal por motivos de força maior: o nascimento do seu primeiro filho, António Fiadeiro, que virá a ser afilhado de Álvaro Cunhal. O padrinho afeiçoa-se ao miúdo. No berço, deixa pendurado um bilhetinho com uma espécie de instruções de uso, pedagógicas e higiénicas: «Este bebé não deve ser beijado, incomodado, pegado ao colo…» Anos mais tarde, já na ilegalidade, Álvaro Cunhal continua a aparecer, durante a noite, para ver o afilhado, que, às vezes, encontra já a dormir. Uma vez, a criança quase denuncia aquelas visitas nocturnas. Diante dos avós maternos, fala estremunhado no nome do padrinho. Os avós não prestam atenção à inconfidência. Ou fingem que não prestam, como muitos anos depois averigou Stella. Noutra noite, depois do jantar, batem à porta do casal Fiadeiro, na Rua D. Luís de Noronha, à Praça de Espanha. Era Álvaro, acompanhado de outro camarada. Nessa altura, vivia na clandestinidade «profunda», a Europa em guerra condicionava os víveres e a sobrevivência diária dependia de senhas de racionamento, a que os ilegais não tinham acesso. Vinham magros e esgotados. «A primeira coisa que lhes perguntei foi se queriam comer alguma coisa», conta Stella. Cunhal responde-lhe rispidamente que não. Stella insiste, nem uns pastéis de bacalhau, tanto do seu agrado? Resposta: «Não temos fome!» À saída, depois de tratados os assuntos partidários, Stella entrega um saco com pão e pastéis a cada um. «Mal passaram a porta agarraram-se ao pão e começaram a comer. Era uma questão de orgulho. Para mostrar que os comunistas estavam acima dessas coisas.» Até da fome. Outro episódio gastronómico-político: Já estava Álvaro a cumprir a sua dura e prolongada sentença na Penitenciária de Lisboa, na década de 50, quando Stella tenta visitá-lo – malgrado as regras prisionais que restringiam esse direito à família. Tem a interceder por ela uma amiga casual, familiar do director da cadeia. Leva o pretexto de lhe falar no afilhado, mas, na verdade, quer interrogar o amigo e companheiro de juventude sobre o saneamento pessoal e político que sofreu no PCP. Leva também um bolo de arroz, o preferido de Álvaro. A cunha falhou. O bolo entra, ela não. Vai a casa dos pais de Cunhal lamentar-se e chora. D. Mercedes repreende-a: «Porque é que ele ainda a faz sofrer assim? Não tem nada que sofrer. Olhe para mim, disse que não o ia visitar e não fui.» Stella insiste, reactiva o contacto e consegue mesmo visitar Álvaro Cunhal. A primeira coisa que Álvaro lhe diz: «Sabes, aquele bolo que me mandaste? Não o comi. Reparti-o pelos meus companheiros de cadeia.»

No Portugal profundo Celeste Brígida dos Santos, 83 anos, parece que ainda o está a ver. Atrás daquela janela da velha casa da aldeia, sempre com a máquina de escrever à frente. Só que, nessa altura, não era Álvaro, era António. Até se comove a falar desses 14 meses, entre 1943 e 1944, quando veio morar para ao pé dela, na pequena aldeia da Chamboeira (perto de Bucelas, Loures), «aquela gente tão boa, respeitadora e atenciosa»: «Foi o melhor ano da minha vida.» O resto foram canseiras e desgostos, resume.Chegaram um dia de bicicleta, com os parcos haveres equilibrados nos guiadores. Eram Sérgio Vilarigues (Quim), Luísa e a filha Aida Paulo (Isabel). Esta e Álvaro faziam-se passar por irmãos. A princípio, as pessoas da terra estranharam, desconfiavam dos forasteiros, intrigadas com a vida em comum daquela família tão atípica. Depois, acolheram-nos na comunidade e partilharam com eles o quotidiano racionado e a falta de pão. Álvaro Cunhal anda de botas grossas, «vestido como um operário qualquer», nunca Celeste pensou que fosse alguém tão importante, ou, como uma vez lhe disseram, «o homem mais inteligente de Portugal». O pretenso António funde-se no ambiente rude e camponês da terra. Trepa às figueiras, faz serões a jogar às cartas, na tasca, com os homens da aldeia, participa nos bailaricos e nas festas, em torno da fogueira. Torna-se popular. Sobretudo entre as mulheres. Anda de namorico com duas raparigas com quem dá longas passeatas até à Serra do Picoto, para grande contrariedade de Luísa Paulo, que chega a repreender Cunhal, à frente de Celeste, por causa destas incautas paixonetas. Uma das raparigas era da terra, a outra de Lisboa e vinha à aldeia passar férias. É por causa desta última, que Cunhal comete a mais ingénua falha conspirativa que podia ter posto em causa a segurança dos seus camaradas e da casa clandestina. Assim que sabe que tem de abandonar a casa, Cunhal, num desvelo de honradez, revela à rapariga a sua verdadeira morada e entrega-lhe uma carta dirigida ao pai, Avelino Cunhal. Numa busca em casa da família, a carta é argutamente apreendida por um inspector da PIDE que chega assim ao refúgio bucólico dos comunistas (o episódio é descrito na biografia de Cunhal, da autoria de Pacheco Pereira). Celeste lembra-se de uns «homens de sobretudo a olhar para o chão», a rondarem a aldeia, logo pela manhã. Mas só encontraram uma casa vazia. Os pides chegaram em Fevereiro e os misteriosos inquilinos tinham abalado pelo Natal, quando, durante o I Congresso Ilegal do PCP, se levantou um falso alarme sobre a vigilância da casa. Mas disto Celeste não sabe – nem tinha que saber. Só se lembra que eles, como vieram, partiram. Na véspera, despediram-se, só dela e do marido, explicaram que não lhe poderiam escrever, nem deixar a direcção, «mas que estava próximo o dia em que seríamos todos livres». Claro que Celeste há muito andava desconfiada de que estes não eram uns vizinhos normais: entradas e saídas furtivas a altas horas da noite, aquela ânsia de estar «sempre a queimar papelinhos», a pistola que viu ao fundo de uma gaveta, quando andava a limpar-lhes a casa. Mas tratou sempre de retribuir-lhes as atenções, a companhia e a amizade, com o pão que cozia em casa e, sobretudo, com… o seu silêncio. Há momentos que a memória aprisiona. Para sempre. E que nem as embaralhações das ideias, que a idade vai enredando, conseguem libertar. Como o apoio das duas mulheres ao seu bebé demasiado frágil. E até António, quer dizer, Álvaro Cunhal, lhe acudiu ao parto. Depois do 25 de Abril, Cunhal passou pela aldeia e fez um comício nas redondezas. Celeste levou-lhe uma travessa de rissóis. Convidaram-na para subir à tribuna, puseram-lhe um microfone na mão. Mas tremeram-lhe as pernas, estava demasiado nervosa. De Cunhal só conseguiu um cumprimento apressado, que, no PREC, o tempo cobrava-se ao minuto e havia muitos abraços para dar.

Na prisão O prestígio de Álvaro Cunhal cresce. Tomadas as pontas da reorganização do PCP, reatadas as ligações com o movimento comunista internacional, o líder assume o estatuto de ideólogo, produz centenas de documentos, o Avante! não mais deixa de ser publicado. O seu nome é sussurrado com assombro, a sua fotografia circula clandestinamente. É o princípio do mito. Até os guardas do Forte de Peniche se intimidam, esmagados sob a aura de um preso tão ilustre. Um deles atrapalha-se na sua presença. Quer tocar o apito, mas sopra no bivaque. Às tantas, agarra no molho de chaves das celas e entrega-as a Cunhal. E o chefe dos guardas lá do fundo do corredor: «O que é que você está a fazer, homem? Então, está a dar as chaves a um preso?»O historiador António Borges Coelho chegou em 1957 à ala de segurança máxima, no terceiro piso do Forte, julgado no megaprocesso do MUD Juvenil (52 réus e quase três dezenas de advogados, num julgamento que durou meio ano). Era o mais novo (ele e a seguir o Carlos Costa) entre os militantes do núcleo duro do PCP que ali se encontravam a cumprir pena. «Um indisciplinado típico, um bocado rebelde» – como se autoclassifica, retrospectivamente –, António traja sempre um fato-macaco que herdou do pai, uns socos de Trás-os-Montes, chapéu de palha e, às vezes, um pull-over roto nos cotovelos. Cunhal não gostava de o ver naquele desleixo: «Andava sempre a dizer-me para eu o coser. E eu, respondia-lhe sempre que não me apetecia. Até que, um dia, agarrou no pull-over e coseu-o ele.» Naquela ala, reinava a serenidade, uma quase ausência de conflitos entres os presos. «Isso devia-se não só ao clima de enorme fraternidade entre nós, como ao grande prestígio e ascendência que Cunhal tinha.» Estavam presos, sim, mas não intelectualmente emparedados. Os condenados lêem, estudam avidamente, numa preocupação permanente de melhorar a sua cultura. «Extremamente austero e disciplinado para consigo e com os outros», Cunhal é dos que leva mais a sério este intuito de aproveitar o tempo. Ao máximo. Nem que fosse usufruir o sol nos escassos três quartos de hora de recreio, com uma prata dos maços de cigarro no nariz para não queimar demasiado. Em seis anos estuda o equivalente a dois cursos universitários. É na prisão que o génio de Cunhal se revela mais fecundo. Desenha, pinta, escreve ensaios pictóricos e históricos, um romance e uma novela – a identidade de Manuel Tiago nunca foi um mistério para os seus companheiros de prisão, que lêem e discutem com o autor os manuscritos. Era tal a disciplina e a ânsia de andar depressa que procura desenvolver a técnica de ler duas linhas de cada vez. Como numa parábola, queria ir depressa mas foi mais devagar, ganhou tais perturbações na visão que, durante algum tempo, teve dificuldades em ler. Cunhal goza de um regime especial, no que toca a receber livros de fora, regime que acaba por beneficiar clandestinamente toda a ala. «A minha educação pictórica foi feita com os álbuns que chegavam a Cunhal, levados debaixo da camisola para a minha cela», conta Borges Coelho. Às vezes, os ânimos esmoreciam, as condições eram duras, as revistas às celas contínuas, os dias sempre iguais, não se perspectivava a libertação, a pena eternizava-se, com as medidas de segurança. Psiquicamente abalados, os presos nem sempre conseguiam estudar. À conta disto, Borges Coelho leu dezenas de vezes os volumes de Guerra e Paz, os únicos livros prestáveis da biblioteca da prisão. Cunhal (mesmo depois da provação de uma tortura quase até à morte e de oito anos passados numa estrita incomunicabilidade) nunca desalentava. Pelo contrário, contagiava os companheiros com a sua esperança inabalável. «Estava sempre a pensar nos outros, nos problemas de saúde ou psíquicos que poderiam ter os seus camaradas de prisão. Sempre atento ao seu aspecto, se estavam bem ou deprimidos. Os outros preocupavam-no mais do que os seus próprios problemas pessoais. E isto era absolutamente genuíno. Não há fingimento possível, numa prisão…», continua. Havia quem tivesse perante ele alguma reverência, mas ele não a cultivava. Estava-se, ainda por cima, na fase pós-estaliniana de anticulto da personalidade e Cunhal acautela-se. Ainda em liberdade, Borges Coelho fizera-lhe um poema, sobre ele e Militão. E recita-o de cor à sua frente. Cunhal não gosta: «Não tens nada melhor para fazer do que escrever poemas com esse conteúdo?» Borges Coelho destrói o papel onde o tinha escrito, embaraçado com o seu arrebatamento poético.Entretanto, a fuga de Cunhal e dos seus camaradas torna-se premente. Cá fora, têm lugar as últimas diligências. O guarda da GNR Jorge é definitivamente recrutado e pago para a operação, compram-se dois automóveis usados num stand do Areeiro, convoca-se uma brigada de militantes para espalhar cavilhas de ferro, depois da passagem dos carros com os fugitivos, para furar os pneus de eventuais perseguidores… Borges Coelho, apesar de reiteradamente convidado, não acompanhará os seus dez camaradas que se evadem por baixo do capote do GNR, descendo por uma corda de lençóis sabiamente atados por Francisco Miguel: os ventos agrestes de Leste já lhe tinham abanado as convicções e não quer voltar a ser funcionário clandestino. Chega o dia previsto – 3 de Janeiro de 1960. À hora de jantar, os presos no refeitório tentam a custo disfarçar a tensão, mas as conversas não pegam. Às tantas, todos param de comer, engolir torna-se custoso. Lá fora, o GNR cúmplice dá sinais bem audíveis da sua inquietação. Levantam-se da mesa, Carlos Costa distrai o guarda que lhes vigia a refeição, faz-lhe uma pergunta trivial. O guarda não tem tempo de responder. Guilherme Carvalho aplica-lhe o clorofórmio. O homem desmaia e é metido numa cela. Os presos não alinhados na fuga são fechados por fora, o que os livra da condenação por homicídio tentado do guarda (mas não do regime pós-fuga aplicado aos que ficam, o mais duro e desumano de sempre). Na sala do refeitório vazia, um gira-discos fica a tocar A Patética, de Tchaikovski…Os guardas da rendição depressa percebem que algo se passa: a luz do refeitório aberta, o gira-disco a rodar em falso e, no chão, os vestígios do descontrolo intestinal do guarda abafado. É dado o alarme. Instala-se a confusão, disparam-se tiros para o ar, chegam os oficiais, os cães-polícia, há um guarda que chora como uma criança… Mas os carros com os fugitivos já vão longe. O que leva Álvaro Cunhal é conduzido por Rui Perdigão (o co-piloto é Pires Jorge) e voa em direcção a Lisboa, a mais de 120 à hora. Vai tudo em silêncio. Cunhal é o primeiro a quebrá-lo. Coloca uma objecção técnica, quer inverter os planos. Perdigão levanta o pé do acelerador, mas Pires Jorge assume o comando da operação: irão mesmo para casas clandestinas, em Lisboa, como estava programado. Antes da fuga, Cunhal requer previdentemente os três cadernos confiscados, onde escrevera Até Amanhã, Camaradas (na altura ainda com o título, A mulher do Lenço Preto). No dia da fuga, guarda-os num colete que ele próprio confeccionara para o efeito. Só cabem dois cadernos, o terceiro terá que ir dentro do bolso da samarra. Quando entra no carro, pousa-o no banco traseiro, a seu lado. Deve ter caído, quando abriu a porta e não mais foi encontrado. A novela 5 Dias, 5 Noites e umas pranchas de madeira a óleo foram-lhe ter directamente a S. Bento, depois do 25 de Abril, entregues por uns militares que as encontraram nos depósitos de Peniche.

Na legalidade Na manhã de 25 de Abril de 1974, Cunhal está à porta de um café, em Paris, à espera de um camarada português com quem vai reunir-se. Não sabe, aparentemente, de nada, não escutara rádio ainda. Quando o funcionário chega e lhe dá a notícia, Cunhal mantém-se cauteloso e não adia a reunião dessa manhã. Disciplinado como sempre, só depois de terminados os afazeres partidários previstos se irá inteirar do sucedido. Viveu em Moscovo e em Paris, passou por Bucareste (onde funcionava a Rádio Portugal Livre) e Argel. Quando os portugueses conhecem, finalmente, o rosto de Álvaro Cunhal, já este tem o cabelo todo branco e as sobrancelhas negras que lhe emprestam um semblante insólito. No dia em que chega, o aeroporto de Lisboa está a abarrotar de gente e de comoção. Há um poeta que sucumbe na multidão a um ataque cardíaco: Pedro Oom. O rosto descobre-se, mas a figura permanece enigmática. Os camaradas de partido referem-se a ele como «o amigo», «o camarada» – uma espécie de código, o amigo, o camarada só podia ser ele. Poucas pessoas sabem onde mora (nem os motoristas do partido) e com quem vive. Cunhal disfarça-se na rua com uma boné, é assim que aparece em casa da ex-mulher para ir buscar a filha única, Ana, a quem trata com uma extremosa ternura. No PCP, envolve-se em tudo, mesmo em tudo: desde escrever todos os seus discursos, a arranjar a torneira que pinga, à escolha das marcas dos carros comprados, às questiúnculas amorosas dos camaradas mais próximos, ao azul-cobalto – tinha de ser azul-cobalto – da sigla da CDU… O único órgão não fomal que controla directamente é o jornal O Diário. Ironiza, tem um sentido de humor fino, dá algumas gargalhadas, mas quando se zanga, não grita e jamais se descontrola. Cozinha, aprendeu a ser auto-suficiente, na clandestinidade. Presta uma enorme atenção à sua própria imagem, veste sobriamente, sem nota dissonante ou de mau gosto e não gosta de se ver de óculos (chega a vir uma máquina de escrever do Leste para lhe passar os discursos em letra maior). Mantém-se distante, mas não admite outro tratamento que não seja por tu, ou que se levantem quando ele entra na sala. O aperto de mão é vigoroso, o braço, no entanto, mantém-se estendido para marcar a distância física. O formalismo contrasta com a atenção e cuidados em relação ao bem-estar dos funcionários e amigos. Indaga da sua saúde, da boa alimentação, recomenda cuidado na condução… Uns acham-no um sedutor, permanentemente a representar e a estudar o interlocutor, outros emocionam-se com a sua afectividade, a extrema modéstia, aliada ao orgulho. Nunca se nega ao debate, apela sempre à franqueza, os camaradas falam, falam e ele escuta-os com inusitada atenção, mesmo quando as opiniões são divergentes. Os objectores despejam tudo, sentem-se aliviados, como num confessionário e Cunhal acaba quase sempre reafirmando a sua posição. Nunca perdoa a quem sai, a teoria das folhas secas é implacável, como se uma certidão de óbito moral fosse lavrada aos dissidentes. Disfarça mal a comoção, quando as crianças se lhe dirigem para lhe falar ou entregar flores. Os olhos humedecem-lhe. Álvaro Cunhal sempre recusou colocar a sua fotografia em cartazes eleitorais e já ficou à porta, sem participar nas iniciativas partidárias, até que o seu retrato fosse retirado do recinto. Condenando o culto, reforça-o. Nem toda a gente se sente à vontade com ele. O seu olhar fixo intimida e seduz, ao mesmo tempo. Não é fácil lidar com um ícone histórico.O sentido da sua vida definiu-o logo na juventude, numa carta de conselhos dirigidos a Mário Soares, em 1943: «Aprecio as vidas vividas com uma finalidade. Isto é: a dedicação de todas as energias a um objectivo — chame-se ele arte, ciência ou luta social. Nada fornece mais beleza à vida que a existência dum objectivo ao qual se dê tudo quanto se possa dar.» Pacheco Pereira, que transcreve a carta na íntegra, no volume II da biografia, acha que ele estava – «como sempre» – a falar para a história. Há dez anos, numa entrevista memorável de Carlos Cruz na RTP, o apresentador faz, de rompante a pergunta sacramental: «O s"otôr tem medo da morte?» Cunhal começa por contar a história da filha, que, quando era pequena, ao contrário das outras crianças, se aproximava dos cães bravios. Ela chegava, falava aos cães, batia-lhes com a mão na cabeça e eles sossegavam. O pai compreendeu que os cães reagiam assim porque a miúda não tinha medo deles. «A tal senhora envolta no lençol com uma caveira, aproxima-se de mim, vê que por este lado não se serve e vai-se embora.»

Anonymous said...

Curvemo-nos

Anonymous said...

"Álvaro Cunhal (1913-2005)
Mesmo quando esperada, a morte das grandes personagens que forjaram História nunca é uma ocorrência vulgar. Mesmo quando um mar ideológico nos separava deles, nunca o seu desaparecimento nos deixa indiferentes.
Contrariando a visão do "materialismo histórico" acerca do pequeno papel dos indivíduos na história, poucos influenciaram tanto os anais do século passado em Portugal, tanto pela acção como pelo pensamento, não somente no campo político (a luta contra a ditadura, a revolução portuguesa) mas também no campo literário, artístico e cultural, através da influência que durante décadas o PCP teve nesses domínios, sob sua directa orientação.
Mesmo sem nunca ter exercido o poder, Álvaro Cunhal tem um lugar cativo entre os protagonistas políticos do Portugal que hoje somos. E a sua gesta pessoal de revolucionário (clandestinidade, prisões, exílio) perdurará seguramente como imagem de uma das grandes figuras que o movimento comunista deixa para a história"

Vital Moreira, in Causa Nossa

Anonymous said...

"A CEIFEIRA NOCTURNA

Passou, rápida, levando a sua ração de vivos.

Levou o Eugénio, meu amigo do coração, que conheci quando, depois do Ostinato Rigore, sentia uma crise na sua poesia. As palavras tinham chegado a tal estado de depuração que Eugénio não sabia como iria conseguir escrever mais. Achava que tinha gasto as palavras, as suas palavras, o seu dizer, a sua limpidez, o seu rio interior. Falámos muitas vezes dessa usura, em longos passeios que começavam em S. Lázaro e iam mais longe que Masssarelos, junto ao rio, passando nas noites mais tépidas pelas carcaças dos barcos que faziam, num passado já antigo, a faina fluvial do Douro. Uma noite comparou-se a esses barcos meio enterrados no lodo, cinzento sobre cinzento, na pouca luz de então. Foi a música, pela música, pela música de camera, a música que era tão contida como as suas palavras obstinadas e rigorosas, pelos quartetos de Beethoven e Haydn, que se libertou para escrever de novo. Ele ouvia nos quartetos a mesma luta entre uma contenção terminal, em que as palavras se tornavam nós, e depois via-as soltarem-se na voz da música, voando para o ar, sem perder rigor, nem obstinação, mas falando. Falando com ele, falando connosco. Foi essa fala que encontrava na música que o fez de novo escrever, até que a música lhe faltou e o traiu.

Levou Álvaro Cunhal, a quem tenho dedicado muito do meu tempo, sobre o qual escrevi já mais mil e quinhentas páginas e me preparo para acrescentar muitas mais. Tinha estado a escrever sobre ele, na hora em que morreu, sem saber que morria. Terminava o capítulo em que descrevia a sua chegada a Peniche em 1956, após o longo isolamento da Penitenciária, e o misto de sentimentos entre quem começava a perceber que não iria ser tão cedo (ou em qualquer dia) libertado, embora já tivesse cumprido a pena a que fora condenado, e a alegria de reencontrar os seus camaradas mesmo na prisão. Nesse capítulo falo numa das várias formas de violência moral que a ditadura tinha, agora felizmente inexistentes porque não vivemos em ditadura, mas infelizmente também esquecidas e ignoradas. Era uma coisa tão simples e tão dramática como isto: os presos sujeito a medidas de segurança, um artificio jurídico obra de grandes juristas e professores de direito, para entregar à PIDE o controle do tempo de prisão – Cunhal, por exemplo terminou a pena em Janeiro de 1956 e só saiu da prisão porque fugiu em Janeiro de 1960 – tinham que demonstrar que não tinham “perigosidade” para poderem ser libertados. Isso significava para um comunista ter que declarar uma qualquer forma de abjuração dos suas ideias, garantir que nunca mais fazia política e se afastava do partido. Cunhal era todos os anos colocado perante esse dilema, continuar na prisão eternamente, ou abjurar frente à PIDE. Que era um verdadeiro dilema moral, um fio da navalha que cortava pelo carácter e pela personalidade, revela-se nas respostas angustiadas que deu repetidamente. Estas violências que não eram físicas mostram a face iníqua de um regime com que muita gente hoje se mostra complacente."

Pacheco Pereira, in "O Abrupto"

Anonymous said...

Coimbra está de luto.
Dois Homens com ligações a Coimbra deixaram-nos ontem.
No ano em que se comemora a infame data de 750 anos que deixamos de ser Capital.
Morte a D. Afonso III.

Anonymous said...

O que é que achavam se por ocasião de um qualquer aniversário do nascimento ou da morte do Hitler, do Estaline ou do inenarrável Mao, alguém se lembrasse de lhes louvar a "coerência" ou a "tenacidade", ou saísse com qualquer outra tola idiotice de circunstância?
Gaita, que não há pachorra.

Anonymous said...

Sim, pode até ser mau, mas não deixa de ser surpreendente a forma como o jornal oficial dos comunistas concedeu, há tempos, honras ao camarada Estaline que, todos sabemos, foi responsável por 20 milhões de mortos no seu império vermelho, muitos deles executados por mero delito de opinião.

e ainda vêem falar dos fascistas!!!

Anonymous said...

Não falamos apenas dos fascistas, falamos também dos nazis, dos franquistas, dos salazaristas (que pelos vistos temos, ainda, bastantes), dos pinochistas, dos peronistas, dos castristas e dos bushistas.

E não nos podemos esquecer que há menos de 20 anos, no, chamado, Portugal democrático, por delito de opinião o cavaco-anibalismo - personificado por Santana Lopes e Sousa Lara - condenou ao exílio e, tentou ao ostracismo, um dos vultos maiores da cultura portuguesa.

Anonymous said...

coitadinho do Saramago e do evangelho, tss tss!

ao menos ficámos com a paixão do mel gibson, percebe-se melhor (não há cá as cenas das faltas de pontuação e parágrafos entediantes e sempre se podem comer umas pipocas!!!)

Anonymous said...

e beber a coca-cola capitalista...

Anonymous said...

Claro que se percebe melhor, para quem o quer perceber, pois foi realizado por um fundamentalista religioso.
Qualquer dia teremos a piedosa história de Fátima....

Anonymous said...

saramago? maior vulto da cultura portuguesa??? ora essa é boa!!!! eu cá acho que é o fernando rocha!

Anonymous said...

Sic transit...

Anonymous said...

Sustine et abstine!

Anonymous said...

Sapiens nihil affirmat quod non probet!!!

Anonymous said...

Sutor, ne supra crepidam

zeu s said...

Malta nao gastem o calço à lingua com tanto latim, já deviam saber que inter amicus geringonça non habit, todavia permanece uma crepitante diferença entre os arcanjos do mal e o homem que agora nos deixa: A estatura moral. Não será por se terem alcandorado a lideres que esses ignominiosos foram superiores ao desaparecido lider dos comunistas portugueses. Cunhal nao matou, recusou o culto do chefe, foi um ser humano vincadamente renascentista, um artista, um intelectual de merito, humanista. Recusou, quando tinha o mais oleado aparelho politico/militar montado no portugal de setenta, a confrontação que se passeou no fio da navalha.A sua coragem e a resistencia foram balsamos de esperança para muitos, a coerencia e dignidade deveriam ser exemplos para todos. Conheço muitos de vós, sei da firmeza das vossas convicçoes, da força da vossa honra, do sentido de justiça, sei da necessidade de polemizarem, é a marca do nosso grupo, nunca satisfeitos.Mas lembrem que a democracia existe porque alguns lutaram e nós a reforçamos. O combate ideologico de Cunhal reforça a legitimidade da nossa vivencia democratica.Se levantei a voz contra o muro, se chorei por tiannamen, se compreendi e apoiei a intervençao no iraque, percebo ao mesmo tempo, como vós, estou certo, que a vida é muito mais que gibson ou coca cola. Se jamais usarei uma "paneleira",um lenço palestiniano, ou uma rasta anti-globalizaçao, tambem cá estarei para denunciar as tentaçoes de imposiçao de uma só perspectiva. Abraço sentido.

Anonymous said...

Tenho dito.
Se bem que já usei um lenço palestiniano e fui contra a invasão do Iraque.
Já em relação ao castor debaixo do braço...

Anonymous said...

Potius mori quam foedari

Anonymous said...

Cronologia
1974

22 de Fevereiro
Publicação do livro Portugal e o Futuro do General António de Spínola, em que este defende que a solução para a guerra colonial deverá ser política e não militar.

5 de Março
Nova reunião da Comissão Coordenadora do MFA. É lido e decidido pôr a circular no seio do Movimento dos Capitães o primeiro documento do Movimento contra o regime e a Guerra Colonial: intitulava-se "Os Militares, as Forças Armadas e a Nação" e foi elaborado por Melo Antunes

14 de Março
O Governo demite os Generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Chefe e Vice-Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, alegando falta de comparência na cerimónia de solidariedade com o regime, levada a cabo pelos três ramos das Forças Armadas. Essa cerimónia de solidariedade será ironicamente baptizada nos meios ligados à oposição ao regime como "Brigada do Reumático" nome pelo qual ainda hoje é muitas vezes referenciada. A demissão dos dois generais virá a ser determinante na aceleração das operações militares contra o regime.

16 de Março
Tentativa de golpe militar contra o regime. Só o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha marcha sobre Lisboa. O golpe falhou. São presos cerca de 200 militares.
24 de Março
Última reunião clandestina da Comissão Coordenadora do MFA, na qual foi decidido o derrube do regime e o golpe militar.

23 de Abril
Otelo Saraiva de Carvalho entrega, a capitães mensageiros, sobrescritos fechados contendo as instruções para as acções a desencadear na noite de 24 para 25 e um exemplar do jornal a Época, como identificação, destinada às unidades participantes.

24 de Abril
O jornal República, em breve notícia, chama a atenção dos seus leitores para a emissão do programa Limite dessa noite, na Rádio Renascença .

24 de Abril - 22:00 horas
Otelo Saraiva de Carvalho e outros cinco oficiais ligados ao MFA já estão no Regimento de Engenharia 1 na Pontinha onde, desde a véspera, fora clandestinamente preparado o Posto de Comando do Movimento. Será ele a comandar as operações militares contra o regime.



24 de Abril - 22:55 horas
A transmissão da canção " E depois do Adeus ", interpretada por Paulo de Carvalho, aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa, marca o ínicio das operações militares contra o regime.

25 de Abril - 00:20 horas
A transmissão da canção " Grândola Vila Morena " de José Afonso, no programa Limite da Rádio Renancença, é a senha escolhida pelo MFA, como sinal confirmativo de que as operações militares estão em marcha e são irreversíveis.

25 de Abril - Das 00:30 às 16:00 horas
Ocupação de pontos estratégicos considerados fundamentais ( RTP, Emissora Nacional, Rádio Clube Português, Aeroporto de Lisboa, Quartel General, Estado Maior do Exército, Ministério do Exército, Banco de Portugal e Marconi).

Primeiro Comunicado do MFA difundido pelo Rádio Clube Português

Forças da Escola Prática de Cavalaria de Santarém estacionam no Terreiro do Paço.

As forças paramilitares leais ao regime começam a render-se: a Legião Portuguesa é a primeira.

Desde a primeira hora o povo vem para a rua para expressar a sua alegria.

Início do cerco ao Quartel do Carmo, chefiado por Salgueiro Maia, entre milhares de pessoas que apoiavam os militares revoltosos. Dentro do Quartel estão refugiados Marcelo Caetano e mais dois ministros do seu Gabinete.

25 de Abril - 16:30 horas
Expirado o prazo inicial para a rendição anunciado por megafone pelo Capitão Salgueiro Maia, e após algumas diligências feitas por mediadores civis, Marcelo Caetano faz saber que está disposto a render-se e pede a comparência no Quartel do Carmo de um oficial do MFA de patente não inferior a coronel.

25 de Abril - 17:45 horas
Spínola, mandatado pelo MFA entra no Quartel do Carmo para negociar a rendição do Governo.

O Quartel do Carmo hasteia a bandeira branca.

25 de Abril - 19:30 horas
Rendição de Marcelo Caetano. A chaimite BULA entra no Quartel para retirar o ex-presidente do Conselho e os ministros que o acompanhavam, levando-os, à guarda do MFA para o Posto de Comando do Movimento no Quartel da Pontinha.

25 de Abril - 20:00 horas
Disparos de elementos da PIDE/DGS sobre manifestantes que começavam a afluir à sede daquela polícia na Rua António Maria Cardoso, fazem quatro mortos e 45 feridos.

26 de Abril
A PIDE/DGS rende-se após conversa telefónica entre o General Spínola e Silva Pais director daquela corporação.

Apresentação da Junta de Salvação Nacional ao país, perante as câmaras da RTP.

Por ordem do MFA, Marcelo Caetano, Américo Tomás, César Moreira Baptista e outros elementos afectos ao antigo regime, são enviados para a Madeira.

O General Spínola é designado Presidente da República.

Libertação dos presos políticos de Caxias e Peniche.

27 de Abril
Apresentação do Programa do Movimento das Forças Armadas.

29 a 30 de Abril
Regresso dos líderes do Partido Socialista (Mário Soares) e do Partido Comunista Português(Álvaro Cunhal).

1 de Maio
Manifestação do 1º de Maio, em Lisboa, congrega cerca de 500.000 pessoas. Outras grandes manifestações decorreram nas principais cidades do país.

4 de Maio
O MRPP organiza a primeira manifestação de boicote ao embarque de soldados para as colónias. A Junta de Salvação Nacional previra a necessidade de envio de alguns batalhões de militares para substituirem a tropa portuguesa ainda em território africano e cujo período de mobilização já terminara. Pensava-se também que seria importante manter as Forças Armadas Portuguesas em África até final das negociações com os Movimentos de Libertação Africanos, com vista à independência dos territórios.

16 de Maio
Tomada de posse do Iº Governo Provisório, presidido por Adelino da Palma Carlos.

Do I Governo fazem parte, entre outros, Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro.

20 de Maio
Américo Tomás e Marcelo Caetano, com o conhecimento da JSN mas não do Governo, partem para o exílio no Brasil.

25 de Maio
Início das conversações com o PAIGC.

26 de Maio
É fixado o primeiro Salário Mínimo Nacional em 3300$00.

Maio / Junho
Grandes conflitos laborais e lutas de trabalhadores começam a surgir em algumas das grandes empresas portuguesas LISNAVE, TIMEX, CTT.

Inicia-se um grande movimento popular de ocupações de casas desabitadas que vai prolongar-se por vários meses. A Junta de Salvação Nacional legaliza, em 19 de Maio, as ocupações verificadas e proíbe novas ocupações.

6 de Junho
Conversações preliminares com a FRELIMO, em Lusaka, com vista à independência de Moçambique.

8 de Julho
É criado o COPCON, chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho

9 de Julho
O Primeiro Ministro Palma Carlos pede a demissão do cargo por alegadamente não ter condicões políticas para governar numa clara alusão ao peso da influência do MFA. Com ele solidarizam-se alguns ministros do seu Gabinete entre eles Francisco Sá Carneiro

12 de Julho
Vasco Gonçalves é indigitado por Spínola para o cargo de Primeiro Ministro.

18 de Julho
Tomada de posse do IIº Governo Provisório, presidido por um homem do MFA, o General Vasco Gonçalves.

27 de Julho
Spínola reconhece o direito à independência das colónias africanas.

Julho / Agosto
Greves da MABOR, TAP, SOGANTAL e JORNAL DO COMÉRCIO.

8 de Agosto
Motim de ex-agentes da PIDE/DGS presos na Penitenciária de Lisboa.

28 de Agosto
Promulgação da Lei da Greve.

31 de Agosto
Por despacho conjunto do Ministério da Admnistração Interna e do Ministério do Equipamento Social é criado o SAAL vocacionado para intervir na área da habitação social. No processo SAAL colaboraram então alguns dos arquitectos portugueses hoje internacionalmente reconhecidos, como Siza Vieira e Alves Costa. Ficaram célebres as áreas de intervenção do Barredo no Porto, as de Setúbal e de Évora.

6 de Setembro
Acordos de Lusaka entre a FRELIMO e o Governo Português.

7 de Setembro
Tentativa de tomada de poder pelas forças neo-colonialistas em Lourenço Marques.

9 de Setembro
O Governo Português reconhece a Guiné-Bissau como país independente.

10 de Setembro
Apelo de Spínola à chamada Maioria Silenciosa, numa tentativa de procurar o apoio dos sectores mais conservadores da sociedade portuguesa. Em resposta a este apelo surgem na imprensa, dias mais tarde, notícias que anunciam para dia 28 uma manifestação de apoio a Spínola.

26 de Setembro
António de Spínola e Vasco Gonçalves assistem a uma corrida de toiros no Campo Pequeno. Vasco Gonçalves é apupado por manifestantes conotados com a Maioria Silenciosa.

28 de Setembro
Em resposta à anunciada manifestação da Maioria Silenciosa são organizadas barricadas populares junto às saídas de Lisboa e um pouco por todo o país. No final dessa noite, os militares substituem os civis nas barricadas. Mais de uma centena de pessoas, entre figuras gratas ao regime deposto, quadros da Legião Portuguesa e participantes activos da manifestação abortada da Maioria Silenciosa, são detidas por Forças Militares.

30 de Setembro
Apresentação da demissão do Presidente da República General António de Spínola e nomeação do General Costa Gomes.

Tomada de Posse do III Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.

6 de Outubro
"Um dia de trabalho para a Nação" proposto pelo Primeiro Ministro. Um domingo é transformado em dia útil de trabalho oferecido gratuitamente pelos trabalhadores ao país. A adesão é significativa e o resultado financeiro desta campanha será dias mais tarde estimado pelas entidades oficiais competentes em cerca de 13000 contos.

27 de Outubro
O Governo anuncia as Campanhas de Dinamização Cultural, empreendidas pela 5ª Divisão do EMGFA com o objectivo de "cumprir integralmente o programa do MFA e colocar as Forças Armadas ao serviço de um projecto de desenvolvimento do Povo Português".

11 de Novembro
O Ministério da Educação e Cultura institui o Serviço Cívico Estudantil, ano vestibular antes da entrada definitiva no ensino superior e que mobilizou milhares estudantes para brigadas de alfabetização e de educação sanitária junto das populações.

7 de Dezembro
Por decisão do Governo é decidido o pagamento do 13º mês aos pensionistas do Estado.

9 de Dezembro
Tem início o renceamento eleitoral com vista à realização das primeiras eleições em liberdade.

13 de Dezembro
Os Estados Unidos concedem ao governo português um importante empréstimo financeiro no âmbito de um Plano de Ajuda Económica a Portugal.

1975

15 de Janeiro
Acordos de Alvor entre o Governo Português e os Movimentos de Libertação Angolanos. Fixa-se a data da independência: 11/11/75.

28 de Janeiro
Militantes de vários grupos de esquerda cercam o Palácio de Cristal no Porto, local onde decorre o Congresso do MFA proíbe todas as manifestações durante o período em que se desenvolverão as manobras da NATO em Lisboa. O desembarque previsto para o dia 31 não chega a realizar-se.

2 de Fevereiro
Trabalhadores rurais ocupam terras abandonadas na herdade do Picote, em Montemor-o-Novo. Início da Reforma Agrária.

7 de Fevereiro
Grande manifestação operária em Lisboa contra o desemprego e contra a NATO.

21 de Fevereiro
Apresentação doPrograma Económico de Transição, elaborado por uma equipa chefiada pelo Major Ernesto Melo Antunes, com vista à recuperação económica do país.


22 de Fevereiro
O MFA reforça os seus poderes políticos chamando a si um direito de veto relativo a decisões políticas fundamentais.

7 e 8 de Março
Confrontações em Setúbal entre grupos políticos. A intervenção policial provoca dois mortos e obriga à intervenção do COPCON.

11 de Março
Divisões profundas entre oficiais do MFA. A ala spinolista é levada a tentar um golpe de estado. Insurreição na Base Aérea de Tancos e ataque aéreo ao Quartel do RAL1 . Fuga para Espanha do General Spínola e outros oficiais. Reforço da capacidade de intervenção do COPCON chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho.

12 de Março
São extintos a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado e em sua substituição é criado o Conselho da Revolução. O Governo dá início à execução de um grande plano de nacionalizações (Banca, Seguros, Transportes etc...).

26 de Março
Tomada de Posse do IV Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.

11 de Abril
Plantaforma de acordo MFA/Partidos assinada por CDS, FSP, MDP, PCP,PPD, PS. O acordo visava o reconhecimento, por parte dos partidos, da necessidade de se manter a influência do MFA na vida política do país por um período de transição de três a cinco anos o qual terminaria por intermédio de uma revisão constitucional.

25 de Abril
Eleições para a Assembleia Constituinte com uma taxa de participação de 91,7%. Resultados dos Partidos com representação parlamentar: PS 37,9%; PPD 26,4%; PCP 12,5%; CDS 7,6%; MDP 4,1%; UDP 0,7%.

19 de Maio
Início do chamado Caso República . Raul Rêgo é afastado da direcção do jornal pelos trabalhadores, acusado de ter tornado o República no órgão oficioso do Partido Socialista.

25 de Maio
Ocupação pelos trabalhadores das instalações da Rádio Renascença, propriedade do Episcopado.

6 de Junho
Em Ponta Delgada realiza-se a primeira manifestação pública da Frente de Libertação dos Açores (FLA). Este movimento sem grande expressão e peso político reivindicava a autodeterminação dos Açores.

25 de Junho
Independência de Moçambique.

Julho
Reagindo ao curso dos acontecimentos e à situação criada no jornal República o Partido Socialista desencadeia manifestações de massas - a maior das quais foi a da Fonte Luminosa, abandonando o Governo em 16 de Julho. O Partido Popular Democrático segue-lhe o exemplo. Iniciam-se as diligências para a formação de novo Governo.

5 de Julho
Independência de Cabo-Verde.

8 de Julho
MFA divulga o Documento "Aliança POVO/MFA. Para a construção da sociedade socialista em Portugal."

12 de Julho
Independência de S. Tomé e Príncipe.

13 de Julho
Assalto à sede do PCP em Rio Maior. Têm aqui início uma série de acções violentas contra as sedes de partidos e organizações políticas de esquerda, registadas por todo o país mas com maior intensidade no Norte e Centro. Esta onda de violência conotada com as forças conservadoras ficou conhecida por Verão Quente.

27 de Julho
Fuga de 88 agentes da ex-PIDE/DGS da prisão de Alcoentre.

30 de Julho
É criado no Conselho da Revolução o Triunvirato que passa a orientá-lo. Constituem-no Vasco Gonçalves, Costa Gomes e Otelo.

7 de Agosto
É divulgado o Documento Melo Antunes, apoiado pelo Grupo dos Nove, um grupo de militares que representava a facção moderada do MFA, e que se opõem às teses políticas do Documento Guia Povo/MFA apresentado em 8 de Julho.

8 de Agosto
Tomada de posse do V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.

10 de Agosto
Melo Antunes e apoiantes são afastados do Conselho da Revolução.

12 de Agosto
Aparecimento do "Documento do COPCON", em contraposição ao "Documento dos Nove", e reforçando a ideia de ser atribuído um papel político relevante às Assembleias Populares (democracia de base).

30 de Agosto
Vasco Gonçalves é demitido do cargo de Primeiro Ministro. Iniciam-se as negociações para a formação do VI Governo Provisório, PS/PPD/PC.

10 de Setembro
Desvio de 1000 espingardas automáticas G3 do DGM 6 em Beirolas.

11 de Setembro
Manifestação dos SUV no Porto, numa tentativa de criar no seio das Forças Armadas uma zona de influência adepta do Poder Popular de Base como advogavam alguns partidos da chamada esquerda revolucionária.

19 de Setembro
Tomada de posse do VI Governo Provisório, chefiado por Pinheiro de Azevedo.

21 e 22 de Setembro
Agudiza-se a luta política nas ruas: manifestação dos Deficientes das Forças Armadas com ocupação de portagens de acesso a Lisboa e tentativa de sequestro do Governo. Prosseguem as nacionalizações: SETENAVE e Estaleiros de Viana do Castelo.

25 de Setembro
Nova manifestação dos SUV em Lisboa. Na intenção de retirar poderes ao COPCON o Governo cria o AMI - Agrupamento Militar de Intervenção.

26 de Setembro
O Governo decide retirar ao COPCON "os poderes de intervenção para restabelecimento da ordem pública".

27 de Setembro
Manifestantes de partidos de esquerda assaltam e destroem as instalações da Embaixada de Espanha como medida de protesto contra a execução pelo garrote de cinco nacionalistas bascos, decidida pelo governo ditatorial do Generalíssimo Franco.

15 de Outubro
O Governo manda selar as instalações da Rádio Renascença, ocupada desde Maio pelos trabalhadores. Mas a ocupação mantém-se.

7 de Novembro
Por ordem do Governo, o recém criado AMI, faz explodir os emissores da Rádio Renascença.
Confrontos violentos na região de Rio Maior entre representantes das UCP's e Cooperativas Agrícolas da Zona de Intervenção da Reforma Agrária (ligadas ao sector do trabalhadores rurais) e representantes da CAP - Confederação de Agricultores Portugueses, instituição ligada aos interesses dos proprietários agrícolas.

11 de Novembro
Independência de Angola.

12 de Novembro
Manifestação de trabalhadores da construção civil cerca o Palácio de S.Bento sequestrando os deputados.

15 de Novembro
Juramento de bandeira no RALIS - os soldados quebram as normas militares que regulamentam os juramentos de bandeira e fazem-no de punho fechado.

20 de Novembro
O Conselho da Revolução decide substituir Otelo Saraiva de Carvalho por Vasco Lourenço no comando da Região Militar de Lisboa.
O Governo anuncia a suspensão das suas actividades alegando "falta de condições de segurança para exercício do governo do país".

Manhã de 25 de Novembro
Na sequência de uma decisão do General Morais da Silva, CEMFA, que dias antes tinha mandado passar à disponibilidade cerca de 1000 camaradas de armas de Tancos, paraquedistas da Base Escola de Tancos ocupam o Comando da Região Aérea de Monsanto e seis bases aéreas. Detêm o general Pinho Freire e exigem a demissão de Morais da Silva. Este acto é considerado pelos militares ligados ao Grupo dos Nove como o indício de que poderia estar em preparação um golpe de estado vindo de sectores mais radicais, da esquerda. Esses militares apoiados pelos partidos políticos moderados PS e PPD, depois do Presidente da República, General Francisco da Costa Gomes ter obtido por parte do PCP a confirmação de que não convocaria os seus militantes e apoiantes para qualquer acção de rua, decidem então intervir militarmente para controlar inequivocamente o destino político do país. Assim:

Tarde de 25 de Novembro
Elementos do Regimento de Comandos da Amadora cercam o Comando da Região Aérea de Monsanto.

Noite de 25 de Novembro
O Presidente da República decreta o Estado de Sítio na Região de Lisboa. Militares afectos ao governo, da linha do Grupo dos Nove, controlam a situação.
Prisão dos militares revoltosos que tinham ocupado a Base de Monsanto.

26 de Novembro
Comandos da Amadora atacam o Regimento da Polícia Militar, unidade militar tida como próxima das forças políticas de esquerda revolucionária. Após a rendição da PM, há vítimas mortais de ambos os lados.
Prisões dos militares revoltosos..

27 de Novembro
Os Generais Carlos Fabião e Otelo Saraiva de Carvalho são destituídos, respectivamente, dos cargos de Chefe de Estado Maior do Exército e de Comandante do COPCON.
O General António Ramalho Eanes é o novo Chefe de Estado Maior do Exército.
Por decisão do Conselho de Ministros a Rádio Renascença é devolvida à Igreja Católica.

28 de Novembro
O VI Governo Provisório retoma funções. O Conselho de Ministros promete o direito de reserva aos donos de terras expropriadas.

7 de Dezembro
A Indonésia invade e ocupa o território de Timor.

Anonymous said...

Obrigado páris, mas só te digo que a terra pesa-me que nem chumbo! Porque será?

Anonymous said...

Fosse eu salazarento e sentiria o mesmo...

Anonymous said...

Salazarento!!! Vá de retro Satanás!!!

Anonymous said...

Obrigado meu Santo António
Por este dia sem igual
Livraste-nos do Camarada Vasco
E agora do Cunhal

Anonymous said...

Concomitantemente com o renascimento de uma das mais tétricas figuras da nossa história - António Champallimaud - com o beneplácito de gradas figuras do ancient régime (entenda-se cavaco-anibalismo).
Porque será?
Algum tipo de recompensa?
A esses é que eu espero que a terra seja bem pesada!

Anonymous said...

Brilhante a crónica do Vasco Pulido Valente no Público.
Os costumes, o público e o privado, a moralidade imposta pelo totalitarismo aos militantes, a mitificação de Salazar, etc. A ler em http://dossiers.publico.pt/shownews.asp?id=1225761&idCanal=1446&idSubChannel=1447

Anonymous said...

é sempre um deleite passar os olhos pela tua escrita

eh eh eh

Anonymous said...

o popey já vai alinhando umas frasesitas, anda a dar-lhe no espinafre?

Anonymous said...

Antes de mais constitui para mim uma enorme tristeza iniciar a participação neste forum a comentar a morte.
Odin de quem me orgulho ter recebido pelo menos os tomates, disse: THOR,nunca te esqueças do martelo. Aqui e em tudo que é lado, discute à martelada e se preciso usa os COORRRNOS!
É afinal nesta prespectiva que cá estou, na vossa Grécia, esperando que um dia nos encontremos no OSLOCAFÈ...........pt, nem que para isso se tenha de comprar o respectivo hotel sito no belo "troutoir" de Fernão de Magalhães. Aí vos garanto que é só martelada, pois lá que as há, há!
Reparem na prestação clássica e ajuizada dos vossos Deuses e quejandas personagens, alongada em discursos e trocaversus em honra à tristeza e ao cabisbaixismo. A vida é uma soda,claro, já dizia o vosso Fócrates, todos sabemos. Mas tem que ser um festim, com muita martelada. Eu que o diga que ando todo fodido! A vida só não foi um festim para o camarada Álvaro porque houve uns corajosos que mantiveram uma merda de um jornal aberto porque era livre e apenas queriam escrever o que lhes desse na gana. E outros houve que saíram à rua para encher, para abarrotar a Fonte Luminosa e dizer não ao SocialFachismo que pululava por tudo o que era casa pública. E porque houve ainda outros que desmantelaram aquela nova PIDE que era o COPCON e à custa de umas marteladas mandaram os SUV para os quarteis descascar batatas e lavar as latrinas porque para ser político é preciso pelo menos saber escrever o nome.Uma referencia ainda para todos aqueles que nao se fizeram sócios de tão democrática instituição como aquela quo o camarada Alvaro dirigia democráticamente e que acabavam perseguidos pelos piquetes de greve ou eram pura e simplesmente saneados porque travavam o processo revolucionário em curso... Puta que o pariu. Mas não tenham dúvida alguma que o admiro.Admiro muito.E admiro porque conseguiu mexer com esta coisa toda, bem ou mal. Ser acusado de tudo o que atrás foi descrito, é uma obra do cacete. Só com um grande martelo! Porra! Um grande homem quando é chamado por Odin é sempre uma grande perda. É pois um acontecimento triste. Perdi alguma coisa, isso é certo. Mas o que é que perdi? Não vou dizer como o meu enorme amigo Marques Pereira, que o Portugal Democrático está de luto, brincas não? Todos temos os nossos gostos de estimação. Foi-me retirada tanta dose de democracia como quando morreu o Prof Marcelo Caetano e o Cardeal Cerejeira. Fiquei triste porque na coutada que os pusemos já não nos podiam fazer mal. Foi como se o ultimo dos pandas do Zoo de Lisboa tivesse sido extinto. Qual era a coutada do camarada Álvaro? Aonde o pusemos? O problema é que estamos a falar de extinção, e dela temos medo. Olhar para o camarada Álvaro é ficarmos privados de uma icónografia viva do que deu origem ao nosso estilo de vida. Se cair uma parte da muralha do Castelo de Guimarães ficamos tristes, mas não mais que isso.
O camarada Álvaro sempre preferiu a Europa do Muro à outra, a das Nações. Sempre preferiu a guerra fria ao Euro 2004. Sempre gostou mais de Talibãs Afegãos que de rebeldes Tchetchenos. Sempre se deu bem em Cuba e mal em Granada. Sempre se deu bem com o carenciado J.Eduardo dos Santos e menos bem com o povo de Angola. Por isto tudo entre muitas mais coisas eu o admiro profundamente. Para se ser desta profunda coerencia das duas uma, ou se está doente ou se tem uma coragem de aço. Vou pela segunda hipotese e digo: AH homem dum cabrão, foste igual até morreres. Por isso estando apenas triste tenho saudades tuas...

PS- numa merda tinhas razão quando dizias que a queda do Muro iria ser má para a rapaziada, o porquê nem vem ao caso...

Malta, marteladas na cabeça para eles e marteladas com a cabeça para elas do vosso THOR.

Anonymous said...

Lembro-me de usares um lenço palestiniano, mas isso foi muito antes de usares fato e gravata. Coisas da vida. Constato que continuas muito bem a esgrimir na língua de Camões. Fazes falta por aqui. Coimbra é a capital política da segunda divisão. Os bons jogadores foram-se todos embora. Aquele abraço daqui até onde quer que estejas.

Anonymous said...

este era para o páris

Anonymous said...

Peninha, Deus? Quem morreu foi o Alvaro Cunhal, a irmã Lucia já faz tempo. Inventa lá um ortodoxo para que fique em paz, senão sei lá...

(Gosto de te ver por aqui. já li aquela treta. Se o/a apanhar ele(a) vai ver o que é o sexo de um tubaralho)

Anonymous said...

K=Kamurkalho,obvio. Beijos. estamaquineta está a passar-se

zeu s said...

Era só o que faltava. Entrar a arrotar postas de arenque no olimpo um impio de riscado sujo e maltrapilho, cabelos compridos e desgrenhados,de martelo em riste e com as fuças, sob o capacete corneo, ainda ensaguentadas dos recontros que o trouxeram desde o mar do norte até à nossa bem amada grecia.A prosa merece referencia e reverencia nao por thor, ou por odin mas por certo por acaso. O lanzudo nao é destituido de todo, mas do afinfanço facil nas legioes de cesar, à imposiçao no helenismo ainda vai muito mar, muito mar. Vens de drakkar enfunado mas tem cuidado nao vás de carrinho. A diferença insanavel entre nós radica na eterna dualidade do caféatenas: cervejaria por parte da mae, snack bar por parte do pai, a bruta força do alcool e o refinado paladar do petisco. Canecas vs francesinhas.Pareces desconhecer o medo mas se os raios da ira, que nao deves despertar, se abaterem sobre ti vais aprender a voar. Sê bem vindo, serás mais um barbaro que apreciará a nossa filosofia, um rude famelico que aculturaremos. Aprecia a calma serena do egeu e vê la se nao te fiordes.

Anonymous said...

Peninha, atenção aos nomes. Sinto o perigo. Em relação ao Dr. ainda não estive com ele UNDER THE T.V.

Anonymous said...

Entre o delírio e o desassossego

Ontem era passaralho
hoje veio o kamurkalho
agora sou D'Artagnan!
E amanhã?

Anonymous said...

Dogma

É evidente que o Alfa
se esfalfa
por manter intrasigentemente o dogma
de que tudo começa em si e acaba no Ómega!

Anonymous said...

Pàris,amanhã serás o que quiseres ser. Tens esse poder benfazejo. Mas se mudares de poiso, vai avisando. Estou no teu rasto, estou contigo como já estiveste comigo... aquele abraço